Aviso: esta matéria aborda temas como depressão e suicídio. Se você enfrenta problemas ou conhece alguém que está nessa situação, veja ao final do texto onde buscar apoio.
Um recente levantamento aponta que, no Brasil, a cada dez minutos, uma criança ou adolescente entre 10 e 19 anos é atendido por conta de autolesão ou tentativa de suicídio. Nos últimos dois anos, foram registrados, em média, 137 atendimentos diários nessa faixa etária, envolvendo casos de violência autoprovocada e tentativas de interromper a própria vida.
Este cenário reforça a importância crucial de que pais e responsáveis saibam identificar os sinais de sofrimento emocional em seus filhos e busquem ajuda especializada o mais rápido possível.
A depressão em crianças e adolescentes pode se manifestar de diversas maneiras, nem sempre evidentes. Jovens podem ter dificuldade em expressar seus sentimentos, e os sinais podem ir além da tristeza, incluindo irritabilidade, comportamentos agressivos, recusa em frequentar a escola, isolamento, retraimento e desinteresse em atividades cotidianas. Mudanças no sono e apetite, bem como sintomas físicos como dores de cabeça ou de barriga sem causa aparente, também podem ser indicativos.
O comportamento silencioso, por vezes, é tão preocupante quanto atitudes mais chamativas. A criança ou adolescente em depressão pode ser aquele que não causa problemas, permanecendo quieto e isolado em seu sofrimento.
É fundamental estar atento a sinais persistentes por mais de duas semanas. Tristeza ou irritabilidade constante, cansaço, perda de interesse, isolamento, queda no desempenho escolar ou menções à morte são alertas importantes. Em crianças menores, o quadro pode se manifestar como birras incomuns, medos intensos e regressões, como voltar a urinar na cama.
Embora fases de instabilidade emocional sejam comuns na adolescência, a persistência e o impacto na rotina diferenciam o comportamento típico da idade de um sinal de alerta. Mudanças típicas da idade são passageiras e dependem do contexto, enquanto um sinal de alerta é contínuo, manifesta-se em vários ambientes, prejudica o dia a dia e tende a piorar, especialmente se houver automutilação, desesperança ou conversas sobre morte.
Fatores como histórico familiar de transtornos emocionais, perdas precoces, violências, bullying, privação de sono, uso excessivo de telas, doenças crônicas, dificuldades de aprendizagem e uso de álcool ou drogas aumentam o risco de depressão. Em contrapartida, a presença afetiva dos adultos, uma rotina equilibrada, sono adequado, prática de atividades físicas e bons vínculos sociais e escolares atuam como fatores de proteção.
Abrir espaço para o diálogo é essencial. Filhos precisam sentir que podem falar sobre o que sentem sem medo de julgamento. Escuta ativa e empática, acolhendo o que a criança ou adolescente expressa sem minimizar ou criticar, faz toda a diferença e deve ser cultivada como forma de prevenção.
Ao perceber sinais de sofrimento, procure atendimento. Pode-se começar pelo clínico geral ou médico da família para descartar causas físicas e, em seguida, buscar um psicólogo. Em casos mais graves, o encaminhamento ao psiquiatra é indicado.
É crucial agir rápido. Procure ajuda se os sintomas durarem mais de duas semanas e prejudicarem o dia a dia, se houver automutilação, ideias de morte, recusa escolar persistente ou mudanças marcantes no sono e peso.
Se você está passando por depressão, tendo pensamentos de suicídio ou conhece alguém nessa situação, procure apoio. Você pode ligar ou conversar pelo chat dos seguintes serviços:
Centro de Valorização da Vida (CVV): 188 (24h, ligação gratuita e sigilosa) ou pelo cvv.org.br;
Samu: 192 em situações de emergência médica;
CRAS/CRAS locais e serviços de saúde mental do SUS também oferecem suporte psicológico.